A ressaca

(N2, Abril 2009)

Sempre que volto de uma viagem fico a ressacar da mesma, no melhor sentido da palavra. O corpo demora a desabituar-se das pessoas e da arritmia diária das férias, procura quem já não está ao lado para partilhar ideias instantâneas e cai na melancolia dos tempos passados.

Um ou dois dias (depende do critério) depois de chegar a Lisboa as imagens e as memórias vão sendo mais claras, selectivas, ficando apenas o que foi, de facto, importante.

As algumas dezenas de imagens são difíceis de perceber para quem não passou por elas. O que não foi visitado deixa todos apreensivos e o que fizemos também não é por todos entendidos. E não terá de o ser.

Aproveitei o fds para andar pela cidade, pelos meus pé ante pé. Estes passeios são bons para arejar as ideias e ver como se mudam as vontades, onde quase tudo está igual. Ainda assim, senti a cidade diferente, ou talvez eu estivesse nela com outros olhos. De esplanada em esplanada, de bar em bar, de rua em rua e a descobrir uma Alfama que se enche de fado para turistas nos finais de domingo, voltei a casa para comer qualquer coisa e tentar mais uma noite de 11 horas de sono, antes do doloroso regresso ao trabalho. Mas a curiosidade de voltar a ouvir aquela música e rever as especiais imagens construiu uma automática ideia de genérico final de um qualquer filme sobre pessoas e o que com elas fomos. E seremos.

Umas atrás das outras, com a que já foi banda sonora de outro, ganham nova expressão e desejo de serem partilhadas. Dada a incógnita que é o seu destino, deixo esta senhora, sem nome, que nada nos disse e de quem nada sabemos, que apenas sorriu quando lhe ofereci as nossas uvas da beira da estrada.


Boa semana para todos.