Um dia

Não estou. Decidiste que não estarias talvez naquele instante em que sentiste que há mais para além do que queres que esteja em ti. Ou em mim. Nos dois? Seria bom se um dia o descobríssemos. Talvez aí todas as recordações fossem futuro e faríamos daqueles que são momentos só nossos o passado. E tentaríamos ser felizes. Sim, porque há que aprendê-lo. Ou será um processo natural? Tentaremos.

Não te diria que não, com tudo o que nos uniu, de bom, de mau, porque aprendemos a viver-nos desta forma tão fugaz e desligada que nos prende sem o sabermos. Mas agora não estás. Saíste pela porta em que entrei naquele final de tarde. E guardo essa imagem dos teus passos apressados, como se estivesses a perder o barco para o outro lado do mundo, caminhando para até um dia… Há outro? Deseja-lo? Sempre essa incerteza que martela como um metrónomo descompassado que se acerta por uma melodia batida.



Hoje saí por essas ruas que percorres vezes sem conta, por essas pedras que pisas com a cadência do teu ser. Mas hoje tu não passaste por lá. Talvez tenhas saído pela porta, desta vez para descer a rua, no regresso de mais um dia sem mim.

[Como estava o jardim, e as flores? Viste se havia notícias no correio? Olha que eu nunca vejo o correio, sei que nunca me trará sinais de ti.]


Fui ver-o-mar. Caminhei pela areia e deixei-lhe a minha marca, tal como o fizeste. Olhei ao longe e ouvi música. Podíamos ser nós a saborear aromas na pele e a cravar-nos. Eu sei que não gostas quando me aproximo assim, mas não te demoves.

Voltei para casa. Afinal, aqui voltarás um dia, apenas quando quiseres, sim. E nada poderei fazer a não ser esperar. Nas tuas mãos, sempre nas tuas mãos… Foi este o lado que escolheste para me protegeres? Ou a ti? Ineficaz, como vês.

Resta-me respirar. E um sinal teu.

Rascunhos na Memória