(Londres, Dezembro 2005)
Eu até gosto do nosso cantinho "à beira-mar plantado"...
Já andei por outros recantos, não tantos assim, mas também não tão poucos que não me permita opinar, e chego sempre à conclusão que não me vejo a viver em muitos deles e que aqui vou (tentar) ser feliz!
Mas, cada vez mais, sinto que nasci no país errado, talvez não errado, mas no país ao lado. E não me refiro à periferia em relação a Espanha, mas sim em relação ao Mundo.
Já por duas vezes tento concorrer a bolsas para estudar na Europa e a candidatura fica pelo caminho porque essas bolsas destinam-se a estudantes de países terceiros, ou seja, países que não pertencem à União Europeia, países que tentam emergir economicamente, países que necessitam de jovens qualificados para os colocarem "positivamente no mapa". A esses jovens são dadas (literalmente) bolsas, que nunca ficam aquém dos mil euros/mês, a fim de aprenderem cultura europeia para fazer benefício glorioso à sua Nação.
Então, sempre que tento solicitar uma bolsa levo com a resposta que Portugal não é um país solicitante, que se estivesse no Afeganistão, Azerbaijão ou em todos esses que terminam em -ão e similares já poderia concorrer.
Em Portugal, desenvolvimento não sei onde estás!... Não me parece que o nosso belo país se enquadre em nenhuma das denominações apresentadas: "europeus" e "países terceiros".
Olhando à minha volta, sinto que pertenço àquela a quem chamaram "geração rasca", mas que teve que aprender a "sobreviver" dos estágios consecutivos, do salários 750 sem quaisquer direitos, a fazer manobras para contornar a incerteza e que não consegue planear a vida a médio prazo porque o curto e mediato é uma interrogação constante. Hoje aqui, amanhã sabe-se lá onde e a fazer o quê...
Será que Portugal não estará mesmo à margem, a navegar à deriva, desintegrando-se da Europa em direcção a nada, sem que aqueles que embarcaram (obrigados) estejam conscientes disso?