(Londres, Dezembro 2005) O contacto com os algarvios tem sido gradual, ainda que reduzido, e, maioritariamente, à distância. De si, pouco sei, mas de mim querem saber muito.
A procura de casa tem sido um método interessante para perceber como funcionam estas cabecinhas...
Quando ligo e peço informações sobre a casa, que os próprios puseram anúncio para arrendar, pouco mais ouço do que silêncio. Lá faço umas quantas perguntas, muito concretas, e começa a descrição, breve e sem grande entusiasmo. Depois de fazer a pergunta final, qual o valor da renda, vem a habitual frase "pois... isso sabe... ainda não sabemos bem... Gostávamos de a conhecer primeiro e depois logo falamos do preço". Alego que só perderei o meu tempo se o valor estiver dentro do que estou disposta a pagar, surgindo a segunda pergunta do outro lado: "Então... é aqui de Tavira?", o que não demonstra muita perspicácia auditiva. Lá lhes digo que não, que estou cá a trabalhar e que preciso de arranjar casa rápido, por isso não tenho tempo a perder com conversas inúteis. Inevitavelmente perguntam "E trabalha onde??". Pronto, é tudo o que querem ouvir!! Lá lhes respondo (se não for assim acho que acabo mesmo a acampar na ilha) e o discurso muda da noite para o dia: "Ah! Pois olhe, a casinha é muito boa, blá, blá, blá..." e ao fim de cinco minutos a descrever todos os pormenores, ficam à minha disposição para mostrar o apartamento, dizem o preço e terminam com: "Tinhamos muito gosto em ter cá a menina", frase que já foi concluída com: "uma camarária, ficaria muito contente se ficasse com a casa" ou "uma menina, gosto muito de alugar a casa assim a uma menina. Ainda para mais ficava aqui mesmo ao pé de mim!".
Enfim... Há mais um conjunto de situações interessantes, mas essas ficam para depois. Até lá, dia 31, altura em que poderei visitar todas as casas e decidir para qual vou morar dia 2, de certo que terei de dar mais umas quantas justificações de onde sou, para onde vou e o que faço aqui.
E é isto que me espera... No entanto, evito determinados hábitos que podem levar à intromissão indevida por parte deste povo, tais como: não passar sempre nas mesmas ruas, não almoçar sempre nos mesmos sítios, não dizer mais do que o essencial quando me fazem uma pergunta e nunca cair na tentação de dizer "bom dia" só porque aquela cara já pode ser familiar.
De resto, cá estou, provisória dentro do provisório. No próximo fim-de-semana vou mudar de quarto dentro da casa temporária. Já não basta andar a saltar de casa em casa, agora também tenho de dormir de cama em cama!
O trabalho está em stand-by até quinta-feira. Depois disso, logo vejo o que me espera. Até lá, navego pela internet, já que não posso ir para o mar...
Ao final da tarde sabe bem a praia, mas hoje a piscina fez as delícias de um corpo que percorreu parte da cidade com o sol como chapéu.
Amanhã talvez faça valer os meus direitos e dê um saltinho até à Ilha! ;)